DAS PAIXÕES NÃO-CORRESPONDIDAS OU DOS MAL-ENTENDIDOS II

Rodrigo era um jovem estudante, de carreira promissora, alto, bonito, e de apenas 18 anos. Estava no último ano, e isso o fazia ter certa moral com as alunas mais jovens do colégio. Eu, por exemplo. A primeira vez que o vi poderia ter sido na quadra (onde ele jogava vôlei), ou na biblioteca (onde jogava conversa fora com a bibliotecária). Sem nunca combinarmos, a biblioteca se tornou nosso ponto de encontro. Eu me sentava, nos intervalos, com livros e revistas que fingia ler enquanto o esperava. Estava com 14 anos, cursava a oitava série e a perspectiva de que um menino do terceiro ano!! e bonito!! estivesse a fim de mim enchia-me de orgulho. Depois de alguns meses de muita conversa e pouca ação ele me pediu meu telefone, havia dito que me ligaria para irmos ao cinema. A possibilidade ir ao cinema com ele, e quem sabe de ter de beijá-lo porque era isso que as pessoas faziam no cinema, me apavorou tanto que saí de casa durante toda uma tarde. A proposta é de que ele nunca me achasse em casa e desistisse de mim. Pensado y hecho. Depois de algumas ligações ele desistiu de mim e o ano se acabou. Dele eu sabia notícias esparsas de que havia passado no vestibular de medicina, que havia se mudado para belo horizonte... Chorei copiosamente (eu adoro esta palavra brega) durante um ano inteiro todas as vezes em que eu me lembrava dele, arrependida. Não sei se chorava porque sofria ou porque estava aficionada em romances russos, tristes e melancólicos. Pouco importa.

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