RÉVEILLON FELIZ É LONGE DE SÃO PAULO

Réveillon pra mim tem que ser na Bahia, naquela quentura, naquele tumulto, tomando água de coco e deitada na rede. Foi assim sempre quando nós morávamos lá em Tiofilotoni, cidade longinqua a 200 de qualquer prainha fubanga do sul da Bahia. Ô, eu era feliz demais. A gente alugava uma casa, ou ficava numa pousada barata e lá ia a família inteira no carro. Eu brigando com minhas irmãs no banco de trás, minha mãe reclamando no banco da frente. "Nunca mais eu viajo com vocês", esguelava. Lá chegando, era mais briga. Meu pai não queria que nós saíssemos de perto dele. Hora de ir para casa, era hora de ir para casa. Nada de folia até de madrugada, que éramos moça de família. Quando ele baixava a guarda e falava: cheguem até meia-noite, a gente saía correndo para fazer traquinagens, beijar o moço na praia, encontrar com fulano na sorveteria Alaska, ir correndo até a casa da Vlad onde os mais descolados fumavam maconha. O ponto de encontro era na pracinha, lá pelas três. Já que a gente ia levar xingo, levasse o xingo direito. Beijei todos os possíveis. Já que a gente ia levar xingo, levasse o xingo direito. Esta menina só me dá dor de cabeça, dizia seu Itamar. E eu não mudei nadinha.

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