Começaram hoje as palestras do 36 Programa de Treinamento em Jornalismo da Folha. Hoje foi o dia da psicanalista Maria Rita Kehl, que falou sobre a "adultescência", fenômeno que se observa na cultura ocidental, em que os jovens estão demorando cada vez mais a ingressar na vida adulta. Os principais pontos abordados pela intelectual:

  • Os jovens vivem sob a tirania do gozo. Nada mais que objetos de mercado, eles são chamados ao prazer incessantemente pela indústria da moda, do entretenimento, das bebidas, cigarros e drogas. Eles representam também o objeto de gozo e desejo dos adultos, que anseiam pelo seu corpo belo e erotizado. Fim do estereótipo do adolescente feinho, gordinho e cheio de espinhas.

  • Esta carência de deveres e excesso de prazeres acaba criando uma enorme angústia neste jovem, que não sabe como entrar no mundo adulto. "A falta de autoridade dos pais -que já não impõem limites, querem ser legais o tempo todo e o afrouxamento das regras escolares cria um sujeito paradoxal, que dedica grande parte de seu tempo ao prazer mas vive tremendamente angustiado", afirma ela.

  • As maiores consequências da adultescência seriam drogadição, gravidez e violência. E por violência entenda-se qualquer alternativa comum como brigar num bar, discutir em vez de dialogar, apenas porque ele quer o prazer. E quer que seja já!

  • Maria Rita tem observado que várias adolescentes, quando engravidam, já não querem abortar (feito comum em gerações passadas). Ela afirma que isso se dá porque a gravidez representaria para estas jovens um certo alívio. Elas querem deixar de gozar, querem entrar no mundo adulto. Tem a fantasia de que dali para frente tudo vai mudar, que terão mais responsabilidades e serão mais felizes. Nos homens ele observa um crescimento da síndrome do pânico, que faz com que estes adolescentes não queiram sair de casa nem se exporem aos prazeres que a indústria cultural proporciona.
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