QUAL A SUA RELAÇÃO COM A COMIDA?

Era boa de garfo mas me orgulhava de não saber nem ferver água. Fazia parte da minha tentiva de não ser uma mulherzinha e irritar bastante meu conservador papai mineiro. Ao mudar para a cidade grande, me virava com o bandejão da Federal. Nos fins de semana, frango de padaria, arroz papa e folhas de alface mal-lavadas. Algum tempo depois, já gostava de comer bem, desde que não fosse eu a preparar. Morria por um quibe cru e feijoada da minha tia Etelvina, que não era grande cozinheira, mas fazia bem estes dois pratos. Na "Casa dos Contos", restaurante que frequentava bastante, pedia sempre um ravióli recheado de ricota e nozes gratinado com parmesão.

Com a mudança para São Paulo, meu paladar semivirgem descobriu muitas gostosuras, mas também se irritou com o excesso de tomate seco, mozzarela de búfala, alcaparras, salmão e carpaccio. Ainda só comia e adorava ir a restaurantes novos, descobrir lugares, namorar cardápios. Um dia, no Riso & Altro, o proprietário gay me impediu de colocar parmesão num talharim com frutos do mar. Eu nem sabia que não podia, me envergonhei do que ia fazer e obedeci-o prontamente. Deste dia em diante, minha relação com a comida mudou. Escrevia resenhas de livros para o BOL na Mesa e passei a testá-las em casa. Um fracasso após o outro eu fui melhorando e hoje já sei fazer umas coisinhas: penne oriental, filé ao molho gorgonzola, fettuccine aos três queijos, filé mignon oriental e frango ao curry asiático.

Algumas vezes, fui a lugares distantes por causa de um restaurante. Vide o ex-ce-len-te Manacá em Camburi, quando convenci meu então namorado a descermos para a praia só pra jantar e voltar. Quando viajo, durmo em hostels nojentos, ando muitas horas de buzu e bebo água de torneira o dia inteiro para poder jantar no melhor lugar da cidade. Não importa se é frango com quiabo ou paté de canard, eu como tudo.

OS RESTAURANTES DE MINHA VIDA

1) Líder imbatível continua sendo o Manacá, restaurante escondido dentro da Mata Atlântica com os pescados mais gostosos de todo o litoral paulista. Sem contar o clima do lugar. Para começar, você deixa o carro a metros de distância e é levado por um van deles para uma casa de palafitas no meio do mato. Vinhozinho, musiquinha gostosa e maresia no ar.

2) La Tambouille, de Giancarlo Bolla. Jantei com Juan numa noite de casa vazia... quase três garçons por mesa, extremamente corteses e atentos. A comida é fantástica. Nunca vou me esquecer da tenra carne de rã e dos grandes camarões-rosa. Bolla presta atenção em cada detalhe: guardanapos, louças de prata e cerâmicas feitas a mão trazem suas iniciais de maneira muito discreta.

3) "1884", de Francis Mallman. Dentro de uma bodega do século 18, em Mendoza, o restaurante já foi considerado o sétimo melhor do mundo por uma associação de críticos europeus. Serve pratos típicos argentinos e muitos assados em fornos de barro. Com o peso sem valer nada, janta-se MUITO BEM com R$ 100 o casal.

4) Cipriani, do Copacabana Palace. Quer esquecer do mundo? Sente-se numa das poltronas deste lugar e você terá a melhor imagem do Rio, do Brasil, da sua vida. Se há uma definição de restaurante impecável, eles ganham. Para ser sincera, não lembro o que comi, mas fui uma pessoa feliz neste momento.

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