Quando se encontraram ele era um vendedor de automóveis. Ela, uma jovem hippie de cabelos longos e lisos. Se conheceram numa festa no início dos anos 70. Ele era namorado de uma amiga dela. Este pequeno detalhe foi resolvido em dois tempos e eles começaram a namorar. "Ele era bem safadinho.. tinha que ficar de olho nas mãos dele", conta ela relembrando os velhos tempos de namoro num fusquinha. Em menos de um ano se casaram e tiveram uma filha, não necessariamente nesta ordem.

Ele trabalhava, ela mais ainda, cuidando da casa. Depois da primeira filha, teve outra em seguida. Viviam de maneira simples mas, relativamente felizes. E assim a vida corria. Seus afazeres eram preparar a comida do marido, cuidar da casa e das filhas, muito atentadas. Marido resolveu mudar de profissão. Família grande -já eram três filhos- precisava de mais dinheiro. Lá longe, em outros estados, ele passava 20, 30 dias sem voltar. Até tentou levar a família para lá. Foram e voltaram em dois anos. Criançada e mulher choravam de saudade. Era triste ficar longe dos parentes.

Filhos já encaminhados e estudando, o tempo passava. Era preciso mais dinheiro para tanta boca alimentar. Vendeu casa, carro tudo.. ia ser dono do próprio negócio. A falência coincidiu com a ida da primeira filha para a capital. Uma ia para a faculdade, a outra já estava no cursinho. Mais quatro anos, filha formada, outra na faculdade, outra morando em país distante. Ah, agora ia poder descansar. Que nada, veio um netinho na hora errada tirar o sossego e trazer a alegria para a casa que já se esvaziava.

Ele, ainda a ama loucamente, viaja e toma uma pinguinha "de vez em quando". Ela, cuida da casa, reclama das filhas "desnaturadas", estuda e pinta quadros com tinta à óleo. Meu pai e minha mãe.

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