CONDIÇÃO HUMANA É DISCUTIDA EM “A POLTRONA ESCURA”
segundo textinho da minha aula de crítica teatral.. sou péssima
Pouca luz, três homens velhos –todos interpretados pelo experiente Cacá Carvalho- e um sofá de tecido negro são os únicos elementos de “A Poltrona Escura”, baseada em novelas do dramaturgo italiano Luigi Pirandello e com direção de Roberto Bacci. Um deles, aposentado, mora nos fundos da casa do filho que um dia fora sua. Outro é advogado conceituado em crise existencial. O terceiro acaba de perder um amigo de morte súbita quando descobre que possui estranhos poderes. Estas três histórias têm em comum o fato de serem vividas por sexagenários que param para repensar o que fizeram de suas vidas e que papel desempenham no mundo. Num ambiente de fábula, que beira o ridículo, padecem de autocomiseração, culpa e, muitas vezes, destilam veneno contra amigos, esposas, filhos e o resto do mundo.
"Os Pés na Grama", o primeiro dos textos, carece de força dramatúrgica. Carvalho interpreta o homem que acaba de perder a mulher e também o filho que o coloca para viver num quartinho de fundos. Esta mudança de papéis só confunde e não empolga. O foco está no velho, que não chega a causar simpatia tampouco pena por ter sido alijado da convivência de seus familiares. Do lado de fora da casa, observa o novo mobiliário, a agitação, ‘a vida’. Seu único prazer é andar com os pés descalços na grama do parque, como fazem as crianças inocentes. “Velho porco”, grita uma menina, que se incomodara com a presença deste estranho no meio delas. Em tempos de pedofilia, seria ele assim tão inofensivo? Pirandello nos lança a dúvida, que só estaria mais clara na novela seguinte.
Em sua melhor atuação, Cacá Carvalho troca o terno claro por outro -escuro como a poltrona- para interpretar a personagem de “O Carrinho de Mão”. O homem nervoso procura, desde o início, nos convencer de que suas práticas onanistas são necessárias à manutenção da sanidade em meio a uma vida de severidade e trabalho sério. É “comendador, advogado, condecorado”, tem esposa, filhos e um nome a zelar. Ao olhar a própria vida com um certo distanciamento, não se reconhece neste papel, acha que seu eu está aprisionado naquele corpo que não é o seu. Não haverá libertação. Um “estepe” -na verdade, uma cadelinha que a tudo assiste com olhos sábios- dará vazão aos momentos de loucura que tornam possível o retorno à continuidade de sua vida austera.
Com mais traços de fábula, “O Sopro" conta a história de um homem que se descobre dono do poder de tirar a vida dos outros com o simples gesto de apertar seu dedo indicador contra o polegar, levá-lo até a boca e assoprar! Provoca uma epidemia de mortes até que não resiste e se assopra. Será o único dos homens de Pirandello que conseguirá ultrapassar a barreira do conformismo e subverterá a própria vida.
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Tusp – Centro Universitário Maria Antonia (r. Maria Antonia, 294, tel. 3259-8342). Ingressos: R$ 20.
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